domingo, 11 de dezembro de 2011

Adriano Moreira emocionado com inédito doutoramento Honoris Causa cabo-verdiano

Emocionado e despreocupado com eventuais polémicas, o académico português Adriano Moreira recebeu hoje no Mindelo o grau de doutoramento Honoris Causa, o primeiro atribuído por uma universidade de Cabo Verde em dez anos de ensino superior no arquipélago.
O antigo ministro do Ultramar português recebeu a distinção das mãos do reitor da Universidade do Mindelo (UM, na ilha de São Vicente), Albertino Graça, no meio de uma plateia que encheu o auditório e o pátio interior do pólo local do Centro Cultural Português (CCP), com destaque para o primeiro-ministro cabo-verdiano, José Maria Neves.
A cerimónia representou um dia de festa para a comunidade académica do Mindelo, cujos primeiros licenciados e atuais universitários realizaram um cortejo, integrado por Adriano Moreira, que partiu da UM, percorreu toda a Rua de Lisboa e terminou no CCP, defronte do Porto Grande.
Sempre ladeado pelo "padrinho", o escritor cabo-verdiano Germano Almeida, Adriano Moreira ouviu mornas, cânticos e poesia, com Florbela Espanca em destaque, declamada e cantada à porta da universidade e ao longo do trajeto.
Pouco depois, o cortejo parou a meio da Rua de Lisboa, onde, da janela do consulado português, um estudante cantou versos da poetisa portuguesa, acompanhado por uma guitarra e ladeado pela bandeira portuguesa, deixando confusos as dezenas de anónimos que percorriam uma das mais movimentadas vias do Mindelo.
"O que se passa?", era então a frase mais ouvida e cada tentativa da Lusa para explicar o "evento" saía fracassada, passando a resposta de "doutoramento Honoris Causa" para "uma festa para um português", ou "um festa pa um tuga", saído no melhor crioulo.
Já no auditório do CCP, apinhado, foram muitas as palmas para o homenageado que assistiu aos discursos, curto e justificativo da distinção, de Albertino Graça, longo e retrospetivo, de Onésimo Silveira (antigo embaixador de Cabo Verde em Lisboa), e novamente curto, mas cheio de metáforas bem humoradas, de Germano Almeida.
Todos eles elogiaram o percurso académico de Adriano Moreira e até o seu passado, lembrando que foi o então ministro do Ultramar português que, ao banir as leis do Indiginato e do Trabalho Forçado, em 1961/62, acabaria demitido pelo regime de Salazar por, referiram, ter defendido o ensino superior para Angola, Moçambique e Cabo Verde.
Ninguém, porém, se “atreveu” a lembrar que foi Adriano Moreira, enquanto ministro, quem decretou, em junho de 1961, a reabertura do Campo de Concentração do Tarrafal (fora fechado em 1954), para aí instalar nacionalistas daquelas então três colónias portuguesas em África que lutavam pela independência.
O tema foi alvo de polémica ao longo da semana com o presidente da Associação dos Ex-Presos Políticos (ACEP) do Tarrafal de Santiago, Pedro Martins, que lá esteve encarcerado quatro anos (1970/74), que considerou a decisão da UM um "insulto" à memória dos antigos combatentes presos entre 1961 e 1974 no também conhecido por "campo da morte lenta".
Celebrado o doutoramento, chegou a vez de Adriano Moreira que, emocionado, deu uma "aula" de cerca de 30 minutos, passando pelo atual momento de crise, por uma retrospetiva histórica da sua ligação a África e a Cabo Verde e pela necessidade de o conhecimento ser extensivo a todos, intervenção por todos aplaudida de pé.
CDS-PP/Lusa

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